segunda-feira, 26 de março de 2012

Minha vida de menina - trecho

Terça-feira, 29 de agosto

Por que todo o mundo gosta de reprovar as coisas más que a gente faz e não elogia as boas? Eu e minha irmã nem parecemos filhas dos mesmos pais. Eu sou impaciente, rebelde, respondona, passeadeira, incapaz de obedecer e tudo o que quiserem que eu seja. Luisinha é um anjo de bondade. Não sei como se pode ser como ela, tão sossegada. Nunca sai de casa sem ir empencada no braço de mamãe. Não reclama nada. Se eu disser que já a vi reclamando um vestido novo, minto. E se ganha um vestido e eu quiser lhe tomar, ela não se importa. Pois todos me chamam de menina rebelde e ninguém elogia Luisinha.
Vou escrever aqui o que eu fiz com ela e não tenho vergonha, porque é só o papel que vai saber.
Ela vinha guardando, há meses, cinqüenta mil-réis que o padrinho lhe deu pra comprar um vestido. Desta vez eu achei que devia festejar meu aniversário com um jantar às amigas, pois todas elas me convidam quando fazem anos. As negras da Chácara são todas muito boas para mim. Generosa, que é muito boa cozinheira, já me tinha falado que se eu arranjasse uns cobres ela faria um jantar muito bom, sem eu me incomodar com coisa alguma. Na imaginação eu sou sozinha na família. Já tenho fama disso. Veio-me logo à idéia o dinheiro de Luisinha. Mas, não querendo entristecê-la, eu preparei as coisas bem e lhe disse: "Você me dê seus cinqüenta milréis para o meu jantar. Se você fizer o vestido, é só você que lucra. Se me der o dinheiro, eu faço o jantar, ganharei muitos presentes e nós dividiremos tudo". Luisinha concordou. Dei o dinheiro a Generosa. Ela preparou um banquete que tinha até peru. Ganhei de presente: dois vestidos, um vidro de perfume, um de água-de-colônia, uma dúzia de lenços, uma caixa com seis sabonetes, três pares de meias uma lata de biscoitos, afora os pudins e doces.
Acabada a festa, as primas intrometidas começaram a toar o partido de Luisinha, querendo que eu dividisse tudo lona mesma noite. Mas eu não tive coragem de me desfazer de nada e disse a elas: "É melhor dividirmos hoje só a lata de biscoitos e deixarmos o resto para amanhã". Hoje Luisinha reclamou e eu lhe dei mais um sabonete e um par de meias. Ela protestou, mas frouxamente. Eu sei que ela acabará esquecendo. Eu sei que o trato não foi cumprido, mas não tenho remorso, porque eu preciso mais do que ela. Ela quase não sai de casa, só vai à Chácara, e eu saio todo dia.

Faça a interpretação do texto, com base nas seguintes perguntas:

Que fato é relatado nesse trecho do diário?
Por que Helena diz que ela e a irmã parecem filhas de pais diferentes?
Quais são as características de Helena? E de Luisinha?
O que Helena faz para convencer a irmã a dar o dinheiro para ela?
Qual a divisão que Helena faz com a irmã?
Como Luisinha reage diante disso?
Helena sente remorso do que fez? Por quê?

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28411

quinta-feira, 22 de março de 2012

Meu diário

“Meu diário, Amanhã entro de férias e vou conhecer o mar. Como é o mar? Papai me disse que parece uma montanha enorme. È uma paisagem que a gente não se cansa de admirar. Fico imaginando uma montanha mexendo, andando, indo e vindo. Mamãe falou para a gente levar só o essencial. Nada de muita roupa. Na praia, só se usa short. Mas vou levar o vestido que tia Lili me deu de aniversário. E, por falar em aniversário, não posso deixar de contar como foi minha última festa. De manhã não notei nada, nem parabéns ganhei. Fui para a escola e quando voltei, nada. À noitinha, mamãe me pediu para ir ao supermercado com a Lia, minha irmã. Fui. Já tinha até esquecido o meu aniversário, mas, quando cheguei em casa, levei um susto. A casa estava toda apagada e, quando acendi a luz da sala, todos estavam lá. E foi tanto abraço, tanto presentes, que quase morri de alegria. E entre os mil abraços e presentes, lá estava o Branco de Neve, que, apesar do nome, era quase todo preto, apenas a cara era branca. Branco de Neve é meu urso de pelúcia. Durmo com ele. Brinco o tempo todo com o meu Branco. Faz parte da paisagem do meu quarto.Papai adivinhou o meu sonho. E o mar? Amanhã vou conhecê-lo. Dizem que é perigoso, violento, traiçoeiro. Dizem tanta coisa do mar, que nem consigo dormir. Não posso levar o Branco de Neve. Além de grande, faz calor. E mamãe diz que a umidade do mar pode estragar o meu Branco. Fecho os olhos. Convoco o meu anjo da guarda de plantão e sonho com as férias e o mar.Mariana, a menina que sonha e sonha.”
CLAVER,Ronald. Dona Palavra.São Paulo:FTD,2002,p.42-44.

COMPREENSÃO

1 – Qual o assunto principal do texto?
( ) o mar ( ) o aniversário de Mariana ( ) as férias de Mariana

2 – Responda:
a) Quem escreveu esta página do diário?
b) Para quem Mariana escreveu?
c) c) Para que uma pessoa escreve para si mesma?
d) d) Por que esse tipo de texto se chama “diário”?
e) e) Em que época do ano foi escrita esta página do diário?

3 – O texto é narrativo ou descritivo? Que características do texto comprovam sua resposta?

segunda-feira, 19 de março de 2012

O destino de Fortunato - texto sem parágrafos

Fortunato sempre soube que era diferente. Não porque as outras crianças brincavam em bando agitadas ou porque a mãe chamava-lhe a atenção para os afazeres da casa, que não eram poucos, mas porque ele sentia que algo de grandioso estava destinado para ele desde sempre. Passava - imóvel - minutos intermináveis, olhando para o nada com se estivesse em estado de espera plena. “Mas esperava o quê?”. Não o sabia, apenas sabia. Tinha certeza de que, na hora certa, ele deveria estar pronto e, para tanto, preparava-se: lia tudo que lhe caía às mãos e conversava com os adultos. Conversa de gente grande, é claro, nada de bobeiras de meninos e meninas. Perguntava sobre a vida, a terra, os mistérios sem respostas e exigia-as sempre e quando queria saciar a curiosidade que lhe corroia a alma, mas nunca conseguia totalmente e, então, nesses momentos, ele parava e - feito estátua - ficava imóvel. Assim passou o tempo e o menino cresceu. Trabalhava de sol a sol, mas não mudava seu jeito peculiar de ser e os outros já não lhe perguntavam nada. Haviam se acostumado. Ele, porém, sabia que a hora se aproximava. Manhosa, ela brincava com o tempo e escapava-lhe toda vez que pressionada. Mas ele aprendera esperar. Então, o grande dia chegou e tudo aconteceu tão de repente e tão natural que foi assim, assim... Fortunato revelou a todos o propósito de sua existência. Reuniu todo mundo na pacata pracinha, subiu ao coreto, pigarreou e falou, falou, falou por quase um tempo inteiro e ninguém se mexeu: todos paralisados ouviram e, quando desceu e se juntou à multidão, todos queriam tocá-lo, abraçá-lo, beijá-lo e foi aquela agitação. Com gestos controlados, desvencilhou-se aos poucos da multidão e partiu sem olhar para trás, partiu para o seu destino.
Cristina Gomes

Texto extraído de:

http://www.agostinet.g12.br/docs/L.Portuguesa/estudo_do_paragrafo_adriana_1s.pdf