A ciência da educação
Estudantes
brasileiros apresentam projetos que estudam questões relacionadas à educação em
feira internacional de ciências
Em tempos em que apenas 2% dos
jovens brasileiros se interessam pela carreira docente, é com boas vindas que as
feiras de ciências do país recebem projetos da área de ciências humanas que
mostram preocupação com a educação, seja no âmbito da sala de aula ou na busca
de soluções que extrapolem os muros da escola.
Quatro desses projetos
apresentados este ano nas duas maiores feiras do país, a Feira Brasileira de
Ciências e Engenharia (Febrace) e a Mostra de Ciência e Tecnologia (Mostratec),
foram selecionados para disputar a edição 2013 da Intel International Science
and Engineering Fair (Intel ISEF), a maior feira pré-universitária de ciências,
que acontece nesta semana, em Phoenix, nos Estados Unidos.
"Participar da ISEF era um
sonho para mim", revela entusiasmado Túlio Vinícius Andrade Souza,
estudante de Recife e autor do projeto Educação física escolar: soluções
pedagógicas para as principais dificuldades encontradas pelos professores da
Educação Básica. Apesar de contar não ter recebido apoio da escola onde
estudou, o jovem não desistiu do sonho e buscou orientação fora do ambiente
escolar para realizar a iniciação científica, cujo objetivo era analisar a
influência da escola no comportamento dos alunos em relação à saúde e ao
sedentarismo.
Embora a educação física seja uma
das disciplinas mais adequadas para trabalhar estes temas, Túlio constatou que
suas condições de ensino são bastante precárias e buscou descobrir as
principais dificuldades que os professores encontram. Para isso, ele elaborou
um questionário que foi respondido por 20 professores de educação física da
região metropolitana de Recife, sendo dez da rede pública, cinco da rede
particular e cinco que lecionam em ambas as redes. A enquete apontou três
problemas como os mais recorrentes: a falta de materiais, a infraestrutura
precária e o desinteresse dos alunos.
Com os resultados em mãos, o
estudante do 3° ano do ensino médio criou soluções pedagógicas que integrassem
os alunos à aprendizagem. Durante três meses ele aplicou uma sequência didática
com 45 alunos do 2° ano do ensino médio de uma escola particular para testar a
eficácia da estratégia desenvolvida. "Os participantes responderam a
questionários antes e depois das atividades desenvolvidas e pude perceber uma
mudança comportamental e na percepção dos alunos em diversos aspectos",
explica Túlio.
Para divulgar os resultados à
comunidade escolar, Túlio desenvolveu uma cartilha com nove sequências
didáticas, que traz temas como inclusão social, educação ambiental, a criação
de materiais alternativos como ferramenta pedagógica, entre outros. Com a ajuda
de sua orientadora, Gilvani Alves, gerente regional de Educação, Túlio submeteu
o material à Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco, que está
trabalhando no desenvolvimento da cartilha para ser usada na rede. O estudante
pode também fazer uma palestra de capacitação com 19 professores, que já estão
aplicando as soluções em aula. "Eu quero que o professor possa criar novas
sequências de acordo com a dificuldade que ele encontrar. A educação física não
é vista como as outras disciplinas; falta um livro que guie o professor,
formação continuada e apoio pedagógico", enfatiza.
Integração entre áreas
Ao contrário de Túlio, Bianca
Spina Papaleo, estudante do 3° ano do ensino médio do Colégio Dante Alighieri,
em São Paulo, recebeu todo o respaldo da escola para dar andamento ao projeto
Construindo pontes: ampliando o olhar dos professores em relação aos
transtornos mentais entre estudantes, para o desenvolvimento de melhor convívio
escolar. A escola teve, aliás, um papel fundamental que levou Bianca a escolher
pesquisar esse tema. Quando estava no 9° ano do ensino fundamental, a estudante
teve um princípio de um distúrbio alimentar, identificado por uma professora de
português que avisou a família da aluna. "Foi identificado tão rápido que
eu não tive que fazer tratamento. Como eu tive essa oportunidade, quis dá-la a
outras pessoas", conta.
O objetivo do projeto era
encontrar uma forma com que os professores percebessem em sala de aula sinais
que identificam alunos com transtornos mentais.
O primeiro passo foi criar um pré-teste para avaliar o conhecimento
prévio dos professores acerca de alguns transtornos.
Bianca usou o Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM - IV), elaborado pela Associação
Americana de Psiquiatria, que lista diferentes categorias de transtornos
mentais e características para identificá-los, para avaliar o quanto os
professores sabiam a respeito desses transtornos. Anorexia, bulimia, transtorno
obsessivo- compulsivo (TOC), transtorno de ansiedade e depressão formam um
grupo que os professores conhecem mais e têm mais facilidade para identificar
características. Já em relação à esquizofrenia, abuso de álcool, transtorno
bipolar e transtorno de oposição e desafio os professores demonstraram ter
menos conhecimento.
Em um segundo momento, Bianca
criou um protocolo combinando prevalência, risco e frequência dos transtornos
para aumentar a possibilidade de identificação precoce dos portadores de modo
que a escola organize um sistema de prevenção, em que o professor observa um
sinal amarelo, alerta a orientação educacional que entre em contato com a
família, sugerindo, se necessário, a intervenção de um especialista e criando,
assim, uma ponte entre alunos, professores, orientação educacional, família e
especialistas.
"Alguns professores, no
entanto, não tem as ferramentas necessárias para fazer isso", reconhece
Bianca. Por isso a estudante realizou em sua escola uma palestra e um workshop
interativo, procurando reforçar os pontos mais importantes do protocolo. O
próximo passo é criar cursos de capacitação com estudos de caso dentro do
próprio ambiente escolar. "Estamos pensando em como fazer esse
treinamento. Eu também quero acompanhar os professores no dia a dia para ver se
eles têm observado os alunos", planeja Bianca.
Jovens cientistas
Além dos projetos de Túlio e
Bianca, outros dois projetos relacionados ao universo educacional participam da
ISEF: Can Game, dos estudantes Hitallo Cavalcanti, Luiz Reis Neto e Thiago
Pedrosa, que surgiu com o intuito de desenvolver um jogo multidisciplinar
voltado para o autismo, e Pesquisa na web por discentes de iniciação científica
júnior: uma análise sobre as fontes de informação online utilizadas, de Sandro
Bertelli, cujo objetivo era identificar a necessidade de ampliar investimentos
em processos educativos que dêem condições para os estudantes usarem
corretamente os dados e informações online.
A delegação brasileira é formada
por 28 alunos de diversas partes do país, de escolas públicas ou particulares.
Realizada desde 1950, a Intel ISEF reunirá mais de 1600 jovens cientistas que
disputam prêmios em dinheiro e bolsas de estudo nas mais renomadas
universidades do mundo.
Em 2012, o principal destaque
brasileiro foram os estudantes Eduardo Thadeu Rodrigues e Juliana Hoch, de Novo
Hamburgo, Rio Grande do Sul. Com oprojeto Facilitando a conservação da vida -
Alternativas de separação de Ácido Lactobiônico e Sorbitol, que busca uma
alternativa de separação dos dois compostos que são utilizados nos líquidos que
conservam a estrutura celular dos tecidos, os jovens cientistas conquistaram o
terceiro lugar do prêmio Grand Award, na categoria Bioquímica, e o quarto lugar
no prêmio "American Chemical", cada prêmio no valor de US$ 1.000,00.